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Últimos Artigos


O ateísmo pode ser observado em suas mais variadas diferenciações.
Ao falar sobre o ateísmo, muitos tendem a simplificar tal ideia ao mero conjunto de pessoas que negam a existência de um ou vários deuses. Contudo, o desenrolar dessa questão está cercado de âmbitos mais complexos marcados pela postura e os pressupostos que definem as diferenças entre cada um dos descrentes. Dessa forma, podemos apontar que o ateísmo se desdobra em formas múltiplas de se reconhecer e agir em um mundo desprovido de deuses.

Para alguns ateus, a inexistência das divindades não se limita ao mero espectro de se colocar presença dessas em dúvida. Além de não acreditarem em Deus, muitos ateus defendem que seja possível – por meio de argumentos racionalmente constituídos – comprovar a ideia de que os deuses e sua realidade espiritual não sustentam a criação do mundo em que vivemos. Dessa forma, os integrantes do chamado “ateísmo forte” abraçam o desenvolvimento de um diálogo avesso à existência divina.

Em contrapartida, existem alguns ateus que encaram o ponto da insistência divina como uma opção de âmbito pessoal. Ao invés de se lançarem ao extenso simpósio vinculado ao tema, os representantes do “ateísmo fraco” limitam o abandono às divindades enquanto postura calcada em opções próprias. Sendo assim, estes ateus não se dispõem a participar ativamente do entrave existente entre os partidários da presença de Deus no mundo e os já citados ateus fortes.

Considerados por muitos como um desdobramento do ateísmo fraco, ainda podemos falar sobre a existência dos agnósticos. Os partidários dessa concepção preferem não se comprometer em uma posição rígida sobre o assunto. Para estes, não existem argumentos suficientemente maduros para que a inexistência de Deus seja terminantemente comprovada. Da mesma forma, não se convencem definitivamente que seres espirituais regem o processo existencial mundano.

Ao observar tantas modalidades do pensamento ateu, podemos ver que a questão pode girar em torno das mais variadas nuances. Ser ateu não implica necessariamente em atacar ou desprezar os demais indivíduos que se apegam à presença divina. De tal forma, observamos que assim como as formas de ver a interferência de Deus no mundo variam entre as diferentes religiões, a forma de se encarar a ausência divina também está cercada por um rico corolário de concepções e posturas.

Por Rainer Sousa
Graduado em História


A troca entre as crenças foi corrente no desenvolvimento da cultura religiosa brasileira.
 


Durante o processo de colonização do Brasil, notamos que a utilização dos africanos como mão de obra escrava estabeleceu um amplo leque de novidades em nosso cenário religioso. Ao chegarem aqui, os escravos de várias regiões da África traziam consigo várias crenças que se modificaram no espaço colonial. De forma geral, o contato entre nações africanas diferentes empreendeu a troca e a difusão de um grande número de divindades.

 
Mediante essa situação, a Igreja Católica se colocava em um delicado dilema ao representar a religião oficial do espaço colonial. Em algumas situações, os clérigos tentavam reprimir as manifestações religiosas dos escravos e lhes impor o paradigma cristão. Em outras situações, preferiam fazer vista grossa aos cantos, batuques, danças e rezas ocorridas nas senzalas. Diversas vezes, os negros organizavam propositalmente suas manifestações em dias-santos ou durante outras festividades católicas.
Do ponto de vista dos representantes da elite colonial, a liberação das crenças religiosas africanas era interpretada positivamente. Ao manterem suas tradições religiosas, muitas nações africanas alimentavam as antigas rivalidades contra outros grupos de negros atingidos pela escravidão. Com a preservação desta hostilidade, a organização de fugas e levantes nas fazendas poderia diminuir sensivelmente.

Aparentemente, a participação dos negros nas manifestações de origem católica poderia representar a conversão religiosa dessas populações e a perda de sua identidade. Contudo, muitos escravos, mesmo se reconhecendo como cristãos, não abandonaram a fé nos orixás, voduns e inquices oriundos de sua terra natal. Ao longo do tempo, a coexistência das crendices abriu campo para que novas experiências religiosas – dotadas de elementos africanos, cristãos e indígenas – fossem estruturadas no Brasil.

É a partir dessa situação que podemos compreender porque vários santos católicos equivalem a determinadas divindades de origem africana. Além disso, podemos compreender como vários dos deuses africanos percorrem religiões distintas. Na atualidade, não é muito difícil conhecer alguém que professe uma determinada religião, mas que se simpatize ou também frequente outras.

Dessa forma, observamos que o desenvolvimento da cultura religiosa brasileira foi evidentemente marcado por uma série de negociações, trocas e incorporações. Nesse sentido, ao mesmo tempo em que podemos ver a presença de equivalências e proximidades entre os cultos africanos e as outras religiões estabelecidas no Brasil, também temos uma série de particularidades que definem várias diferenças. Por fim, o sincretismo religioso acabou articulando uma experiência cultural própria.

Não cabe dizer que o contato entre elas acabou designando um processo de aviltamento de religiões que aqui apareceram. Tanto do ponto de vista religioso, quanto em outros aspectos da nossa vida cotidiana, é possível observar que o diálogo entre os saberes abre espaço para diversas inovações. Por esta razão, é impossível acreditar que qualquer religião teria sido injustamente aviltada ou corrompida.


Por Rainer Sousa
Graduado em História

A tradição doutrinária indiana distingue 10 categorias de seres malévolos, três delas de origem humana. Estas, são descontentes, errantes que habitam uma dimensão intermediária entre o céu e o inferno, ocupadas em fazer o mal e aborrecer os mortais através da produção de fenômenos como a possessão e as inspirações para ações nefastas. Estas três categorias são: os Butha, os Preta e os Pisacha [Pisaca]. Porém, o termo Butha, que pertence ao sânscrito, idioma da antiga Índia, é popularmente aplicado aos três tipos. Serve para designar seres que viveram e não vivem mais como seres humanos deste mundo. Em um sentido específico, aplica-se a fantasmas, simulacros, relíquias do homem morto, impureza astral.  São sombras, pálidos habitantes do plano astral, cópia do homem que foi um dia. A crença nos Bhutas se entende ao Tibet, à China e outros países do Oriente, como a Indonésia, no contexto do Budismo.
 
Os Butha são almas daqueles que morreram de morte violenta [como se vê, uma crença de todas as culturas]; dos loucos; dos que eram afligidos pela dor ou pela avidez em todas as suas formas, fosse avareza, luxúria ou gula. A diferença precisa entre as três classes determina que os Pretas são fantasmas de crianças ou de pessoas que nasceram deformadas, com imperfeições físicas, mostruosidades que, no passado, eram atribuídas à negligência no proceder a certas cerimônias destinadas a propiciar a boa formação dos membros do feto [WALHOUSE]. [No Bardo-Thödol, Livro dos Mortos Tibetano, os Pretas são caracterizados como seres profundamente tristes]. Os Pisacas, aproximam-se mais dos vampiros, por sua capacidade de extrair energia vital e, geralmente, são de natureza feminina.
A distinção entre um butha e rupa [a alma animal do ser humano] é muito tênue: Bhuta é o corpo fantasmagórico, rupa é o alento vital que anima bhuta. Os bhutas são "cadáveres astrais" remanescentes homem depois da morte física e, entre os hindus, o contato com tais criaturas, essas "cascas", produz, inevitavelmente, resultados maléficos. Apesar de pertencentes ao astral, os buthas são magneticamente atraídos para os ambientes da Terra com os quais se identificam por conta dos hábitos cultivados em vida.
Normalmente, os Bhutas, depois da morte do indivíduo, transcendem a realidade terrena e vão para mundo sublunar, Kama-Loka, onde se desintegram lentamente [o espírito puro, dissociado de seus atributos terrestres vai para a dimensão ontológica, plano de Ser, chamada Devakan]. Quando permanecem entre os vivos, os Bhutas tornam-se assombrações de cemitérios, que se escondem nas árvores, animam cadáveres, iludem e destroem seres humanos.
"É melhor para alguém entrar no corpo de um tigre, de um cachorro do que tornar-se um bhuta..." — disse o velho hindu... Todo animal possui seu próprio corpo e o direito de fazer uso honesto dele enquanto que os bhutas são amaldiçoados, dakoita — bandidos, ladrões. Estão sempre espreitando, ansiando uma oportunidade de usar o que não lhes pertence. É um estado horrível, um horror indescritível, um verdadeiro inferno". [BLAVATSKY]
Em algumas culturas regionais, como no Hindustão*, os Buthas recebem reverência como entidades tutelares e as famílias mantêm em casa representações do fantasma: uma pedra sem forma definida. Diariamente, depositam diante dele [a] oferendas, como roupas e arroz, para aplacar alguma possível irritação e requerer sua proteção contra maquinações de Buthas dos vizinhos.
No Deccan, platô localizado na Índia central, os fantasmas são chamados Vîrikas e, mais ao sul, Paisâchi. Nestes locais, os santuários para oferendas são feitos com pilhas de pedras no topo das quais há um cavidade onde é colocada a pedra representativa do fantasma. Se os presentes forem esquecidos, os espíritos visitarão o "negligente" provocando tormentos e infortúnios ou aparecendo durante a noite para reclamar o que lhes é devido.
Dr. Buchanan relata um caso de aparição de Paisâchi: em viagem a Mysore [sul da Índia] seu cozinheiro ficou doente e morreu. Os pertences do morto foram reunidos para serem entregue à esposa e filhos. Porém, o mordomo, chefe dos criados, havia se apoderado de um par de chinelos e tinha a consciência pesada. O cozinheiro, transformado em Paisâchi, começou a atormentá-lo aparecendo à noite, com um turbante negro, exigindo reparação. Noite após noite o fantasma visitava o mordomo, tomando a forma de um cão, rondando o local onde havia morrido, mudando de forma, agigantando-se até assumir o aspecto do cozinheiro. O mordomo não teve mais ânimo de conservar os chinelos e devolvendo-os, recuperou a paz [RADCLIFFE, 1954].
* Hindustão ou Indostão: O subcontinente indiano é a região peninsular do Sul da Ásia onde se situam os estados da Índia, Paquistão, Bangladesh, Nepal e Butão. Por razões culturais e tectônicas, a ilha do Sri Lanka e as Maldivas podem também considerar-se como pertencentes ao Subcontinente. Esta região do sul da Ásia foi historicamente conhecida por Hindustão ou Indostão, nomenclatura hoje apenas utilizada no contexto da história da relação entre os povos europeus e o subcontinente.

Quando se afirma que algo ou alguém tem um grande segredo, logo surgem as lendas, supertições e boatos. Assim ocorre com os segredos do Vaticano e do Governo Americano com relação aos OVNIs. Embora os segredos possam realmente existir, talvez eles não sejam tão interessantes quanto o público espera que eles sejam. Assim ocorre com os segredos da Maçonaria.

Tirando as decisões políticas que são tomadas em momentos críticos da História de determinadas nações, como ocorreu, por exemplo, no Brasil, na época da Inconfidência Mineira, restam os considerados "Altos Segredos", que normalmente se resumem em ritos, dogmas e mistérios tirados do judaísmo e do paganismo babilônico e egípcio, de forma bem semelhante às crenças de sociedades espiritualistas. Alguns dizem que o maior segredo do qual o neófito toma conhecimento ao ingressar na Maçonaria é o fato de que a Maçonaria não tem segredos tão incríveis ou surpreendentes quanto se diz.
Muitos maçons afirmam até mesmo que a Maçonaria não é uma sociedade secreta e sim apenas uma sociedade discreta, havendo grande diferença entre estes dois conceitos, porém, apesar desta afirmação se adequar perfeitamente às coisas ligadas à Maçonaria, ela é desmentida pelo Juramento iniciático da maçonaria, que diz:
"Eu (cita o seu nome), juro e prometo, de minha livre vontade e por minha honra e pela minha fé, em presença do Grande Arquiteto do Universo e perante esta assembléia de maçons, solene e sinceramente, nunca revelar qualquer dos mistérios da maçonaria que me vão ser confiados, senão a um legítimo irmão ou em loja regularmente constituída; nunca os escrever, gravar, imprimir ou empregar outros meios pelos quais possa divulgá-los. Se violar este juramento, seja-me arrancada a língua, o pescoço cortado e meu corpo enterrado na areia do mar, onde o fluxo e o refluxo das ondas me mergulhem em perpétuo esquecimento, sendo declarado sacrilégio para com Deus e desonrado para os homens, Amém"
(Ritual do Simbolismo Aprendiz Maçom, 2ª edição - Rito Escocês Antigo e Aceito, julho de 1979, pp. 51,54).
No primeiro grau da maçonaria o candidato admite que é profano, que está em trevas em busca de luz, pois a maçonaria afirma que todos os que não são maçons estão em trevas.

A Estrutura da Maçonaria

A Maçonaria é organizada em ritos, sendo estes divididos em graus. O rito escocês tem 33 graus, sendo que o grau 33 é honorário. Os 33 graus do rito escocês equivalem aos 10 graus do rito York. Os graus 1 a 3 são os mesmos nos dois ritos aqui mencionados e são chamados de graus da Loja Azul, pois são comuns a qualquer rito maçônico. Ao atingir o grau 3, o maçom tem que escolher entre estes dois ritos, se pretender subir na escala hierárquica. Apenas após passar pelos três primeiros graus é que o aprendiz é considerado maçom.

Graus do Rito Escocês:



Loja Azul ou Graus Simbólicos

1. Aprendiz
2. Companheiro
3. Mestre

Graus Capitulares

4. Mestre Secreto
5. Mestre Perfeito
6. Secretário Íntimo
7. Chefe e Juiz
8. Superintendente do Edifício
9. Mestre Eleito dos Nove
10. Ilustre Eleito dos Quinze
11. Sublime Mestre Eleito
12. Grande Mestre Arquiteto
13. Mestre do Arco Real de Salomão
14. Grande Eleito Maçom
15. Cavaleiro do Oriente ou da Espada
16. Príncipe de Jerusalém
17. Cavaleiro do Leste e Oeste
18. Cavaleiro da Ordem Rosa Cruz

Graus Filosóficos

19. Grande Pontífice
20. Grande Ad-Vitam
21. Patriarca Noachita ou Prussiano
22. Cavaleiro do Machado Real (Príncipe do Líbano)
23. Chefe do Tabernáculo
24. Príncipe do Tabernáculo
25. Cavaleiro da Serpente de Bronze
26. Príncipe da Misericórdia
27. Comandante do Templo
28. Cavaleiro do Sol ou Príncipe Adepto
29. Cavaleiro de Santo André
30. Cavaleiro Cadosh

Graus Superiores

31. Inspetor Inquisidor
32. Mestre do Segredo Real
33. Grande Soberano - Inspetor Geral

"Pode-se dizer que o francês é o produto de uma arte particular de se exprimir, de se mover e de se vestir. Sua lei neste domínio é o 'gosto' - uma palavra tomada de empréstimo à mais baixa das funções sensoriais e aplicada aqui a uma tendência do espírito. Com este gosto ele se degusta a si mesmo, à maneira em que preparou, isto é, como um molho saboroso. Incontestavelmente, neste ponto, ele chegou à virtuosidade."
(Richard Wagner, Beethoven [L&PM, 1987, 97 págs.])

O espírito morreu e o corpo está mais vivo do que nunca. Nietzsche, que entendia a filosofia também como uma justificação para o corpo, se perderia num mundo em que, depois dos avanços da ciência, a metafísica foi enterrada, em definitivo. Se ontem o corpo só podia ser entendido como uma extensão do espírito, hoje o espírito é que só pode ser entendido como uma extensão do corpo. Cada indivíduo deve ser compreendido, apreendido, percebido, em sua dimensão física, aquela, a do corpo. Toda existência, também, se encerra... no corpo. Viver, nos dias de hoje, consiste em administrar o único patrimônio que efetivamente se tem: ou seja, o corpo. 


Basta pensar: qual a maior forma de transcendência hoje? O sexo, não o amor - porque o primeiro pode ser racionalizado; o segundo, não. Sexo é "satisfação garantida ou o seu dinheiro de volta". É "bom mesmo quando é ruim". E o amor? Justo o contrário: ruim mesmo quando é bom. O amor dá trabalho, o amor cobra, o amor exige. O amor liga no dia seguinte. O amor vira ódio. O sexo, não! O sexo se basta a si próprio, o sexo se justifica, o sexo, bem, está "pronto pra outra", algumas horas depois. Quem ganha então, nessa disputa, o corpo ou o espírito? O corpo. [Um a zero em cima do espírito.]

Se o corpo do outro (e não o seu espírito) se tornou o nosso maior desafio, o nosso maior mistério, como vencer o enigma ("Devoro-te, devoro-te, devoro-te! Decifra-me, decifra-me, decifra-me!") da esfinge? Simples: usando "fogo contra fogo", corpo contra corpo, um corpo contra o outro - o meu corpo contra o seu corpo. Eis que a estética se converte em culto ao próprio corpo! A perfeição escultural, a erradicação do pecado - lipídico, polissacarídeo -, a erudição dos pesos e das medidas, a consagração da atividade física. A beleza que, se não for minha, se não estiver implantada em mim, se não puder ser espelhada de forma narcísica, eu não tenho como apreciar, eu não tenho como sentir, eu não tenho como ser feliz. Fora do corpo não existe vida! (Lembram-se disso?) [Dois a zero em cima do espírito.]

Assim, o prazer só ganha sentido quando parte do corpo e não quando parte do espírito. Audição, visão, tato, paladar e olfato. Sim, os cinco sentidos! A chave para o desfrute do corpo do outro. Um mundo de sensações, um universo de dimensões infinitas! Uma única sensibilidade a ser desenvolvida: a material, a concreta, a real, a do gosto. "Bom gosto" versus "mau gosto". A linguagem se escraviza aos humores do corpo (expressões proliferam para dar conta da morte do espírito): gostoso, delicioso, saboroso, apetitoso, irresistível! O hedonismo - busca incessante pelo prazer, fuga desesperada da dor - torna-se a única filosofia possível. E a ciência? Só se for a dos exercícios, a dos regimes! A psicologia...? Apenas uma muleta para a aceitação dos estados do corpo (e não do espírito) e das limitações (de novo, do corpo). [Três a zero em cima do espírito.]

Já a tecnologia merece todo um capítulo. Os computadores, por exemplo, não estão aí para armazenar informações de valor - mas, sim, para estender a memória (fraca) do corpo, para acelerar a velocidade de processamento (do sistema nervoso), para materializar-se em espírito (o mesmo que, desligado da tomada, desconectado, desplugado, deixa de existir! Tem fim! É finito!). E os telefones? Para falar mais perto e ouvir mais longe (o som do corpo). E a televisão? Meio de transporte! E o automóvel? Meio de locomoção! E os eletrodomésticos? Manutenção, consertos, reparos! E a internet? O id, o ego e o superego! E... o resto? Corpo! Corpo! Corpo! Corpo! Corpo, corpo, corpo, corpo! [Quatro a zero em cima do espírito.]

E por mais que se fale em "sociedade da informação", a civilização do espírito tende também a se extinguir. Tudo o que não for palpável, imediato, sensível cai na vala comum do misticismo. Toda abstração é condenável! Todo raciocínio, esquemático (senão merece a lata do lixo)! Toda ambição, ali na esquina (com a profundidade de um pires)! Discutir idéias (e não coisas ou pessoas) é falar grego (a língua dos alienígenas ["Em que mundo você vive?"]). Escrever, então, é tratar com fantasmas do tempo em que ainda se lia ("Quem lê tanta notícia?").

Enquanto isso, o corpo se estende, infinito. [Infinito a zero em cima do espírito.]



"Um mundo onde só o útil compensa, onde o belo só é vantajoso quando proporciona prazer e [onde] o sublime fica sem resposta."
(Richard Wagner, Beethoven [L&PM, 1987, 97 págs.])